A narração da vocação de Samuel (cf. 1 Sm 3, 1-21) permite-nos identificar os traços fundamentais do discernimento: a escuta e o reconhecimento da iniciativa divina, uma experiência pessoal, uma compreensão progressiva, um acompanhamento paciente e respeitoso do mistério em ação, um destino comunitário. A vocação não se impõe a Samuel como um destino a suportar; trata-se duma proposta de amor, um envio missionário numa história de quotidiana confiança mútua. Como no caso do jovem Samuel, assim também para cada homem e mulher, a vocação – apesar de ter momentos fortes e privilegiados – comporta uma longa viagem. A Palavra do Senhor requer tempo para ser entendida e interpretada; a missão, a que ela chama, revela-se progressivamente. Os jovens sentem-se fascinados pela aventura duma gradual descoberta de si mesmos. Aprendem de bom grado das atividades que desempenham, dos encontros e das relações, colocando-se à prova na vida de todos os dias. Precisam, porém, de ser ajudados a unificar as variadas experiências e a interpretá-las numa perspectiva de fé, superando o risco de dispersão e reconhecendo os sinais com que Deus lhes fala. Na descoberta da vocação, nem tudo aparece imediatamente claro, porque a fé «“vê” na medida em que caminha, em que entra no espaço aberto pela Palavra de Deus» (Francisco, Lumen fidei, n. 9).
( Doc. Os jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional p. 24 nº 77).